bloody-chair

(…)

Por um instante, a luz tênue doabajur, em cima damesma mesinha onde o vinho envenenado se derramara, se apagou. Eu fechei os olhos e me entreguei à escuridão do quarto, depois das pálpebras. Havia um corpo sobre minha cama, havia sangue no meu chão e mais corpos pelos demais cômodos da casa.

Vacilei em me levantar da velha cadeira de carvalho, mas ela ainda me chamava, com o mesmo desespero que ele morreu. Ainda trêmula revendo a cena da morte do assassino, eu coloquei forças nas pernas bambas e me levantei.

– Já vou, Gina! Já vou!

Corri escorregando pelas poças de sangue, vi o corpo de Gerry e senti como se uma faca tivesse sido cravada em meu peito. Desci as escadas sem tocar no corrimão evitando me sujar de mais sangue. E lá estava Gina, tão ensangüentada quanto eu, olhando para o corpo e roupas manchadas de um rubro forte e vivo. Joguei-me em seus braços e chorei como louca pela morte de todos. Até que acordei.

(…)

Os lençóis de seda estavam já grudados em meu corpo por conta do excesso de suor. Aquilo me incomodava profundamente, me dava uma ânsia uma vontade de gritar e sair correndo, mas a preguiça me deixava ainda presa nas pilastras da minha cama. Abri os olhos lentamente e o quarto ainda estava escuro, mas por detrás das cortinas uma luz insistia em adentrar.

Já era a terceira ou quarta vez que eu tinha o mesmo sonho. Mesmas cenas, mesmos rostos, mesma quantidade de sangue. Comentei isto com Don Felipe, já que o mesmo iria para a guerra, ele disse que era apenas uma impressão minha ou medo que o meu noivo não voltasse são e salvo dos pontos de concentração. Mas intimamente eu sabia que o meu sonho nada tinha a ver com isso. Até porque nem era de suma importância que ele voltasse.

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