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Postado no RLS em 27/02/2011


Em meio a tantas quebras de tabus sociais que vivemos, o tema mais abordado é a homossexualidade. Eu mesmo, homossexual por mim, de nascença e crença tenho notado uma crescente predominância de homossexuais assumidos ou não na grande população. Vim perceber tardiamente que em todos os lugares que vou, ou que nem fui, estão lotados de homossexuais. Quando não são no mínimo 8 são 80.

Não havia percebido porque achei que por ser homossexual, meus gostos e preferências sobre qual local ir tinham um leve impulso da minha “tribo”, por assim dizer. No entanto, passei uma época recluso dos pontos de encontro LGTB e saí mais para os pontos “héteros”. Ainda assim achei, não apenas um ou dois, mas vários homossexuais. Uns declarados, outros encubados, outros que nem sabiam de sua sexualidade. Alguns como Karofsky de GLEE, tinham desejos sedentos por um corpo semelhante ao seu, mas mascaravam este desejo com um jeito bruto. Um ‘Cara Valente’ como diz Maria Rita.

Fiquei abismado, achando mais real que nunca aquele lema que diz que “o mundo é gay”. E talvez seja, o que me deixa a dúvida: porque tanta ignorância, intolerância, preconceito e enfim homofobia?

Do ponto filosófico, chamo para o assunto Platão e seu Banquete (Symphosium).

Assisti um vídeo no Youtube, de nome “Hedwig and The Angry Inch – The Oringin Of Love”. Eu não nego que foi cômico. A principio, me vi petrificado diante da cena e da maneira que a musica era apresentado. Foi um choque, um momento de pertubação interior que se chocou no meu próprio preconceito aos transexuais. Mas fiquei extremamente surpreso. A música não saiu da minha cabeça, nem o vídeo. O que me deixou curioso e eu fui buscar informações acerca do filme do qual o vídeo era um singelo trecho.

Hedwig and The Angry Inch – ou em português “Hedwig – Rock, Amor e Traição” – é uma livre adaptação de um musical homônimo do circuito off-Broadway. Conta a história de uma cantora transexual de rock que passa por poucas e boas em busca do sucesso e de sua alma gêmea. Ainda não vi o filme, mas pela sinopse deve ser ótimo. A peça foi também reproduzida aqui no Brasil com Paulinho Vilhena e Pierre Baitelli como transexuais sob a direção de Evandro Mesquita (preferiria ver a peça, Paulinho Vilhena como Transexual deve ser impagável).

Enfim, Hedwig, ainda homem e criança, ouviu de sua mãe sobre a teoria das almas gêmeas de Platão. No decorrer do tempo, ela depois de tanto sofrer e buscar este amor platônico cria uma música a partir do Banquete e assim temos o vídeo.

“O Banquete, também conhecido como Simpósio (em grego antigo: Συμπόσιον, transl. Sumpósion) é um diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C.. Constitui-se basicamente de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor (eros). O Banquete é, juntamente com o Fedro, um dos dois diálogos de Platão em que o tema principal é o amor. A interpretação de Leo Strauss e de Stanley Rosen destaca o aspecto tragicômico deste diálogo, que é, na verdade, a resposta de Platão às acusações da Cidade contra a filosofia.”

É o que diz a Wikipédia. Pelo texto ser muito longo vou usar a adaptação feita pela autora do blog Laranja no Preto. E a letra de Origin Of Love

“No início existiam 3 parentes: o Sol, a Lua e a Terra; cada um produziu o seu descendente. O Sol deu origem ao Homem, a Terra à mulher e a Lua um ser andrógino. Todos eles eram seres duplos, com uma cabeça e duas faces opostas, quatro braços, quatro pernas e dois conjuntos de genitais. Eram seres de grande força e velocidade, pois moviam-se rapidamente.

Um dia, estas criaturas decidiram escalar o Monte Olimpo para atacar os Deuses.
Como castigo, Zeus resolveu retirar-lhes o que lhes conferia poder e velocidade, dividindo-os em metades. Assim, Apolo separou as díades homem-homem, mulher-mulher e homem-mulher em gêneros separados.
Quando se viram separadas, as ex-díades correram freneticamente em busca da sua metade, tentando juntar-se de novo, mas verificando a impossibilidade de tal. Assim, consumidos pela tristeza, os seres começaram a morrer de fome e de desgosto.
Então, Zeus pediu a Apolo para virar os genitais para a parte frontal do corpo dos seres, para que estes pudessem unir-se temporariamente.
Desta forma, os seres que antes da separação faziam parte duma díade homem-homem, procuraram a sua metade num homem, os seres que faziam parte duma díade mulher-mulher procuravam uma mulher e os seres que pertenciam a díades de gêneros diferentes procuravam o seu gênero oposto”

Como li num comentário deste texto, “é incrível como pessoas de quase 3000 anos atrás eram tão mais evoluídas que nós”. Tratavam de amor entre sexos iguais de maneira aberta, e por mais que seja Platão, que no meu ponto de vista era gay e gostava de filosoficamente distribuir sua homossexualidade, ainda estamos nos referenciando à Grécia. Onde a homossexualidade era dada como normal, havia certo preconceito, mas era algo comum.

Dada a esta sabedoria grega em aceitar a homossexualidade e compreendê-la como natural, presente em tantas outras culturas antigas, me pergunto se um livro cheio de contradição e metáforas é mesmo o suficiente para deturpar todo o mundo e deixá-lo tão ignorante a ponto de agredir por preconceito. Tão poderoso é este livro que consegue encobrir a sociedade numa Sombra tão negra que nos deixa com discursos e depoimentos como o da ‘Carta Ao Homofóbico’ publicada no blog ainda hoje.

Segue o link: Carta ao homofóbico

E falando de Sombra, ainda folheio vez ou outra “O Efeito Sombra” de Deepak Chopra. O livro é uma síntese em três perspectivas diferentes sobre o que é Sombra em seu sentido psicológico e como ela age no mundo. E a partir dele e da leitura de “O Poder da Bruxa” de Laurie Cabot tive a inspiração para esta teoria.

“Muito se fala sobre a causa da homossexualidade. Nós, homossexuais, sabemos que é de nascença, os espíritas dizem que é por influencia de algum karma mal resolvido de outra vida, evangélicos dizem que é alguma substancia química que faz com que nos tornemos gays (um disse na minha cara isso, e ainda por cima disse que o BigMac tinha essa substancia), ou que é uma doença genética, atos do demônio e toda uma gama de motivos. Essa onda homossexual da primeira década do século XXI, segundo algumas pessoas, é por conta da mídia.

Me pergunto se a mídia estava presente nas tribos da antiguidade, se o BigMac era o mais vendidos nas lanchonetes daquele vilarejo onde havia um certo ritual em que homens faziam sexo com outros homens para lhe passarem a virilidade. Ou onde está a Ciência e suas pesquisas que ainda não descobriram que gene é este que causa a homossexualidade.

Mas levando em conta o fato de que nosso cérebro entenda mais as entrelinhas de uma ordem do que o sentido literal expresso, então não seria culpa das crenças monoteístas e patriarcais o excesso de homossexuais na sociedade atual?

Afinal eles ensinam homens a amar um deus todo poderoso e um homem que lhes provou a existência do amor incondicional (homem este que deve ser o exemplo para todos, curiosamente nunca se casou nem teve uma mulher – o que é comum e meio obrigatório para judeus, como ele foi). Sem falar na máxima de que as mulheres são sujas e pecaminosas ou que o sexo em si é algo deplorável que deve ser ocultado e a todo custo. E ás mulheres é ensinado a se lastimar por sua feminilidade, dotes sensuais e órgãos provedores da vida. O que as faz quererem ser como os homens: puros, sagrados, preferida criação do deus que cultuam.

Será que em algum nível do inconsciente coletivo masculino, o amor divino e o desejo pecaminoso não se mesclaram graças à sabedoria ancestral (que defende que tudo é sagrado e se complementa) e tal sentimento foi direcionado à única figura que a merecia? Será que o tal amor incondicional não foi para o próprio homem, por ser puro, superior e mais próximo de deus, mas que não é deus e pode ser desejado?

E o inconsciente coletivo feminino, será que não se rebelou com a submissão pela qual foi agredida por tantos séculos e começou então a rejeitar o ser que a julga e trata como um objeto (homem). No fim, começou a admirar a beleza e a feminilidade que ela própria tem e o amor/desejo lésbico surgiu daí.

Esta é mais uma evidência de que o aspecto sombra da sociedade se faz presente e ferozmente latente. Tanto ele foi reprimido pelo modelo da atual sociedade que os “demônios” desprezados e encarcerados no seu interior começaram a reagir pela única abertura que lhes foi dada.

Vivemos então o pesadelo das religiões patriarcais.  Onde suas crenças e dogmas geram suas dúvidas,desestruturações e pecados. Contudo, sou pagão, minhas crenças cercam os mitos da Deusa, sua liberdade e poder. E com certeza minha Senhora,pode ter causado esta revolução sexual. Ela talvez tenha usado os meios que lhe restaram para trazer de volta a harmonia do mundo.

Utilizando como o estopim o caos das polaridades e o coral desesperado de gritos libertadores na quebra dos tabus. Homens viris fazendo o papel das mulheres donas de casa, sentindo na pele e no coração o preconceito por amar diferente e/ou amar demais. As mulheres, por sua vez redescobrindo suas potencialidades tomando de volta o lugar que lhes é de direito. Além é claro de re-explorarem sua sexualidade.

O mundo está passando pelo que eu classificaria como momento de transição cultural.

Foi preciso a Idade das Trevas e a Inquisição para, da ultima vez, fincar os dogmas de uma religião preconceituosa e acorrentadora. Talvez seja preciso a restauração das práticas dos bacanais gregos e orgias nehallênicas para que os Deuses cantem sua canção natur AL, e o deus todo poderoso aceite de uma vez sua sexualidade, que eu diria andrógina, e/ou fala as pazes com sua natureza, ou melhor, com a Mãe Natureza.

E nesta transição eu incluo outros problemas. Como pedofilia, na Idade Média era comum meninas de 15 anos se casarem com homens com idades avançadas – não defendendo, mas não seria a pedofilia um resquício daquela tradição? A violência. Na antiguidade tínhamos as guerras para por pra fora nossas feras indomadas. No campo de batalha o homem poderia ser o assassino, o psicopata. Numa sociedade mais pacífica esta liberdade de instintos necessária é excluída e se torna crime. A banalidade sexual seja da opção sexual, ou da sexualidade em si (pelas artes, mídia e tantos meios de comunicação) é só um dos aspectos da mesma transição cultural.

Fiz há alguns anos uma redação onde eu explanava a sociedade daqui a uns anos. A antiga geração, tão conservadores, hoje em dia sofre com a sua sucessora tão cheia de impulsos à flor da pele. Imagino, ainda desde aquele tempo, que a próxima geração seja uma geração harmônica, onde os tabus quebrados estarão mais livres e o conservadorismo terá sua vez é claro. Já experimentamos e ainda experimentaremos a anarquia e veremos que ela não é lá tão boa para a via social.”

Enfim… Recomendo o filme belo, mágico, sensível e sutil sobre o amor homossexual. Impossível não amar “Eu Não quero Voltar Sozinho” Outro filme de Daniel Ribeiro, com atuações incríveis e um roteiro maravilhoso que trata bem os tabus de “amar e ser diferente”.


Luan Silva