Postado no RLS em 11/10/2011


Recentemente estive navegando pela internet e não sei como nem porque fui parar num texto que resumia a vida, carreira e falecimento de Jorge Lafond. Poucas pessoas podem vir a se lembrar quem é este cara. Mas vou dar uma dica básica:
“EPA! EPA! BICHA NÃO! SOU UMA QUASE MARYLIN MONROE!”
Jorge Luis Sousa Lima, de nome artístico “Jorge Lafond” e mais conhecido como sua personagem caricata Vera Verão foi um dos humoristas mais consagrados da década de 90. Tinha plena consciência de sua homossexualidade desde a infância, assim como deus dotes artísticos. Por esta razão foi estudar dança afro, balé clássico e teatro. Teve sua carreira de bailarino consagrada cedo, enquanto viajava o mundo com um grupo de dança folclórica.
Em 1982 começou sua carreira televisiva ainda não muito estourada. Foi bailarino de vários programas e atuou em algumas novelas, trabalhando aleatoriamente em outros especiais televisivos. À esta época ele já era reconhecido por sua imagem um tanto andrógina e provocante. Em 84 deu vida à Bob Bacall (personagem base para Vera Verão) na novela Sassaricando da Globo. Todavia, sua carreira foi pra sempre consolidada pelo personagem que veio a nascer na Praça é Nossa do SBT, a tal Vera Verão.
Durante os dez anos seguintes Vera Verão ficou conhecida no Brasil inteiro e seu quadro era um dos mais aguardados nas noites de sábado, assim como a Valéria Vasquez de hoje em dia, tornando-se referência perjorativa para gays afetados efeminados e dragqueens.
Ainda nesta fase da carreira, quando Jorge Lafond era a sombra de Vera Verão, grupos pró LGBT disseminaram uma depreciação pela personagem por ela supostamente reforçar o preconceito e o Bullying conta os homossexuais, assim como a própria homofobia. Mesmo perante essas criticas, que o deixavam numa berlinda, Lafond fez um comercial que o Ministério da Saúde havia lhe proposto para uma campanha contra DST’s.
Era costume seu se apresentar com cada vez menos roupas nos desfiles de escolas de samba. O que causou ainda mais a intriga e a intolerância tanto dos partidos gays quanto de uma parcela significativa da sociedade.
Para causar ainda mais polêmicas, em 1999, Lafond lançou sua autobiografia“Vera Verão: Bofes & Babados”, onde tratou com detalhes sobre sua homossexualidade, seus casos e ainda cativou a curiosidade dos fãs e da mídia quando disse que iria revelar o nome de um jogador famoso com o qual ele tivera um caso.
Em 2002 ele foi convidado a participar do quadro HomensXMulhers do programa Domingo Legal (ainda apresentado pelo Gugu). Para satirizar ainda mais sua personagem Lafond foi colocado no grupo das mulheres e foi aqui que Verão teve seu declínio, trazendo um inverno sem sorrisos…
O tão famoso padre Marcelo Rossi iria participar do programa no mesmo dia que Lafond e antes de entrar no palco para fazer seu showzinho (afinal ele é como a Cleycianne, um Divo do Senhor) ele havia exigido que o transformista fosse retirado do palco. Porque a vossa santidade não se apresentaria num palco onde houvesse um homossexual praticante do Candomblé.
Situação escrota e irritante, não? Mas fica pior quando a produção do programa retira Vera Verão do palco e o faz aguardar nos bastidores o padre fazer um mob televisivo de suas danças escrotas. Após a apresentação do padre, Lafond foi convidado para retornar ao palco. Constrangido, abalado e com o orgulho certamente ferido, ele se recusou e foi embora.
Ainda no mesmo dia ele fez seu costumeiro show na boate Freedom onde desabafou com o público. Uma semana depois ele foi internado com problemas de hipertensão. O empresário fez um anuncio dizendo que ele não havia resistido àquela agressão moral e que passou toda a semana cabisbaixo e desmotivado.
Após desenvolver uma depressão e suas internações se tornarem freqüentes, Lafond deu entrada num hospital paulista com problemas renais e de lá não mais voltou vivo. A causa da morte teria sido a falência múltipla de vários órgãos seguida de um infarto no dia 11 de janeiro de 2003.
Certo que sou contra qualquer formação de estereótipos homossexuais, como Lafond fazia. Mas é fato que ele sabia cativar as pessoas, e independente dos incentivos ao preconcito causados por seu estilo, é fato que ele foi uma das grandes personalidades homossexuais do Brasil. Era símbolo de alegria, liberdade e humor, sendo assim uma perda irreparável.
Já ao dito padre, só digo que não há perdão no mundo que tire a responsabilidade do mal que causou a alguém. Se os tais boatos forem verdade, como eu creio que seja.

Luan Silva