Postado no RLS em 16/01/2012
Só há uma vez que desistir pode ser honroso.
Quando a gente desiste de ser quem não somos.
Queremos tanto ser especiais: achar indícios, buscar e reunir qualidades que nos diferenciem, ser e fazer a diferença. Por vezes até encontramos o caminho que nos faz singular, ou encontramos um fração do nosso ser que em nenhum outro existe.
Mas é fato, o caminho tende a ser sádico, as famosas pedras possuem venenos e a jornada não é apenas longa, é sem fim.
Para nós seres diferenciados, oposto dos “normais”, raros e únicos, creio que a maior dificuldade em nossa trajetória e feitos neste mundo é persistir em nosso jeito do contra. Uma hora vamos cansar, uma hora tudo vai desmoronar e o que nos parecia, e é, verdadeiro não tem mais tanto valor assim.
Um desejo absurdo que desafia nossa inestimável integridade nos assombra e nos faz encantados plo que é normal.
Surgem indícios de nossa semelhança com os outros, sentimos que uma mudança inesperada e amplamente modificadora está por vir.
Nosso caminho tão certo e exato, uma trilha numa floresta proibida que só nós, e aqueles que permitimos, podemos atravessar se torna uma corda bamba. E nós estamos suspensos no ar por uma linha frágil, lutando contra o desequilíbrio, nos mantendo de pé e dando um ou dois passos a frente com uma cautela regida por nossa fé em nós mesmos.
Contudo, o caminho é sádico e nos surpreende com o questionário filosófico e a famosa crise existencial.
Quem sou eu?
Este é meu caminho?
Será que não fiz a escolha errada?
Não teriam todos estes anos sido uma longa fase em que só agora me encontro?
Nossa diferença nos tortura, nossa dúvida nos castiga e desnorteia. E nossa fé – parte mais importante do caminho – se abala. A corda fica ainda mais bamba e nós tememos cair no vazio abaixo de nós. E temos então duas escolhas: seguir com determinação e teimosia o caminho que nós escolhemos ou tomar uma rota diferente, todavia comum.
Desistir de quem somos, ou desistir de quem não somos?
Buscar os mesmos resultados da grande massa, ou buscar nossos próprios e únicos resultados?
Ser ou não ser, eis a questão.
Questões, dúvidas, incertezas… Mães das verdades e dos homens íntegros. E talvez eu seja um desses homens, um herói por mim, uma alma em sua noite escura… Tudo isso então é uma provação, um rito de passagem, um destes testes que nosso inconsciente formula para ver o grau de nossa lucidez e maturidade.
O melhor a se fazer neste caso é respirar fundo, deixar as dúvidas de lado – nunca vamos respondê-las mesmo – e seguir a linha dançante sem fé em nada, com um terrível medo do futuro desconhecido. Afinal, além de íntegros, nós que somos do contra, somos uma espécie em extinção que luta contra o mundo e não se rende nem com a morte.
Luan Silva