1932258_567298813365697_17146543_n

Postado no RLS em 18/02/2012


Era tão cedo, e ainda se fazia tão urgente. Entre as carteiras brancas dispostas numa fila não tão linear quanto deveria, estava ele e aquele. Uma distancia mínima de três lugares lhe mantinham afastados. Como o garoto esperto da sala, estava na segunda fileira, ouvindo tudo o que o professor dizia, mas vez ou outra olhava para trás e encontrava os mares azulados e profundos que eram aqueles olhos do fundo da sala.

E ele lhe sorriu. Olhou rapidamente para os lados e disfarçou o sorriso de meia lua com um pigarro, se realocou na banca e fingiu estar prestando atenção com uma cara fingida de gente séria. Só pra lhe fazer rir.

No quadro, várias funções químicas e reações com os mais diversos elementos chegavam a uma lógica pratica e real que contradizia tudo o que estava se passando na sua mente. Tudo deveria ser mais simples, mais lógico, mais linear. Assim como as funções que a professora ditava numa oração decorada por anos e anos de repetição.

No seu caderno aberto, uma réplica quase perfeita do quadro – um pouco mais organizada – com algumas notas no espaço do cabeçalho e do rodapé. Escreveu sem nem perceber suas iniciais, fez mais alguns rabiscos sem perceber o que estava fazendo. E sempre sentindo aquela ânsia infame que lhe embrulhava a barriga, apertava o peito e forçava a garganta.

Estava amando? Era isto?

Olhou novamente pra trás e viu Julio. Estava distraído, olhando para a janela. Imaginou-se olhando aqueles olhos azuis e dizendo com todas as letras “Eu Te Amo”. A sensação do ridículo seria extrema, o medo da resposta (ou o silêncio) lhe encolhia e a certeza de que nunca teria cara nem coragem pra tal ação lhe deixou mais frustrado do que já estava.

Decidiu esquecer. Mas não conseguia…

(…)

Um Nerd? Porque um nerd? Não tinha lá nenhum preconceito por estar realmente atraído por outro homem, nem por sentir uma vontade esmagadora de querer beijar aqueles lábios de novo. Mas tinha que ser um nerd?

Era incrível como aqueles olhos miúdos por trás daquela armação de metal quadrada lhe faziam se sentir tão inferior. Logo ele, visto por todos como o macho alfa, o cara, o bambambã… Tinham mundos diferentes, indefinidos e no choque estavam ali apaixonados. Ele querendo ser mais inteligente para acompanhar as conversas e raciocínio do outro, que por sua vez, tentava provar que não tinha só a mente aguçada, que poderia ser um bom jogador de futebol, se não tropeçasse tantas e tantas vezes no próprio pé.

Estava rindo sozinho de novo. Sentindo o desejo de tê-lo em seu colo, sentir o cheiro de lavanda do seu cabelo e lhe abraçar marcando o espaço e dizendo que todo aquele corpo, aquela vida, alma e coração eram seus.

Rabiscou discretamente um “se olhar de novo, vou aí e te beijo”, fez uma bolinha e atirou bem na cabeça do outro. Ele olhou para trás, os olhos negros tal quais os cabelos encaracolados, o viu sorrindo e balbuciou “leia”. Ele pegou o papel do chão, encenando uma raiva inexistente, pode visualizar os olhos dele passando sobre o seu garrancho e finalmente o viu olhar para trás. Um olhar sedutor que não combinava em nada com aqueles óculos, mas que lhe deram um automático calor no corpo.

Sorriu… Dizendo com os olhos que estava apaixonado.


Luan Silva