Fostes a primeira que me acolheu, num inverno nebuloso, onde os passos eram incertos e solitários.
Assim como fostes tu, a primeira que me tirou o véu de quem eu era. Renegasses o nome pelo qual antendia, porque àquele nome, eu não mais pertencia.
Entre os invernos e os verões da vida por tantas vezes busquei teu abraço. Incontáveis foram elas, de motivos e propósitos diversos. Mas sempre me recusavas teu colo e o acalanto de teu véu.
Nas mãos de um dos seus Senhores de Alma Branca ficou minha bussula runica para as Treze Luas. Para ti, creio eu, ele entregou quando entre os véus ele passou.
Além de não ter nome, fiquei sem um norte até desbravar mistérios e resquícios de mim. Entre a Sombra e as Lâminas, espinhos venenosos e sussurros palpáveis.
Em teu nome, por vontade tua, resgatei os laços ancestrais. Desfiz maldições, enfrentei medos, até chegar ao âmago de minhas raízes.
Contigo aprendi que memórias são tesouro e que nossa alma é puro ouro. Por mais que queiramos ceifar algumas para nosso fardo ser menos doloroso, sem elas não transcendemos do brilho opaco ao reluzente.
Fostes a primeira que me acolheu.
Renegastes meu nome.
Roubasse meu norte.
Negastes teu abraço.
E como uma arquiteta trouxestes meu eu ao ponto de partida, para por uma última vez ainda sem nome, ser em ti minha despedida.
Honradas sejas, Senhora Nerthus.
Reencontro a ti em teu mundo, em minha busca até que enfim decida dar-me teu abraço.