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Postado no RLS em 26/10/2011


Eventos que envolvem crianças costumavam ser mais renovadores. Ver aqueles ‘gnomos’ (como um amigo meu os apelida) correndo e perambulando pelos quatro ventos revivia de maneira sadia nossa infância. Uma nostalgia boa nos percorria a alma e trazia à tona flashes de nossas festinhas e brincadeiras… Não é mesmo?

É? Não sei. Ainda me vejo como uma criança… Criança um pouco crescida, mas não tão madura quanto deveria ser. Criança abismada como a “nova geração” e que se culpa por ter sido um dos pioneiros nessa avalanche que será o futuro de nossa sociedade.

Eu tinha um vídeo muito engraçado do meu aniversário de cinco anos. Tudo muito horrível tirando a decoração de Cavaleiro dos Zodíacos. Tudo bem que o Seya de isopor pregado na parede era mais vesgo que eu, mas isso não vem ao caso. Assim como a lembrança da minha irmã e seu cabelo de abajur.

Eu recordo que passei grande parte do tempo correndo e brincando. Tanto que fiquei com uma tosse terrível e estava todo suado na hora de apagar as velinhas. E também me lembro de ficar puto com meu arquiinimigo infantil. Ele apagou a MINHA vela de Hyoga (o cavaleiro que eu mais gostava por ser galego, ter olhos azuis e uma sedutora voz rouca, sim eu tinha pré-tesão nele).

Voltando ao foco. As festas, brincadeiras, idéias e mundos infantis eram mais inocentes. Ser precoce era novidade, ser mais inteligente era ser prodígio. Hoje estou vendo garotos Benjamin Button à torta e à direita e meninas periguetes (o Word precisa entrar em contato com o Aurélio, pois ainda não reconhece a nova palavra do nosso idioma) com roupas cada vez mais curtas e mais maquilagem que o necessário (nem é necessário).

Nossos pensamentos eram direcionados a qual dos Rangers seriamos, qual brinquedo estava na moda, quem tinha mais bola de gude, tazzo e cartas de Yu-Gi-OH. Coisas simples, mas que nos deixaram viver infâncias incríveis.

Mas aí nós envelhecemos… Ou melhor, amadurecemos!

E recentemente participei da organização e realização do Rotarakids, o Dia das Crianças do Rotaract Club Recife ESPRO. E senti a sensação que meu pai sentiu quando começou a assimilar o que nossa geração prometia e o que o meus avós sentiram em relação a relação de seus filhos: eles vão ser monstros quando crescerem!

Sério… Na organização da fila, crianças de sete anos davam golpes dignos de nossos políticos nos amigos e tentavam a todo custo me fazer de besta. Uma até conseguiu! Outros deixavam bem claro que não estavam ali para as brincadeiras, musicas e qualquer outra coisa que nós pudéssemos oferecer além do lanche e dos presentes.

Eles preferem um brega rasgado com letras podres, aqueles poluentes sonoros, à musicas que na minha época eram tão divertidas e faziam tanto sentido nos tipos de festa. Elas se vestem como se fossem pra um baile funk, ou coisa pior, eles parecem ser a versão pocket de uma quadrilha de traficantes do Rio de Janeiro com sabotagens bem arquitetadas na ponta da língua. Isso quando não são boçais o suficiente para se acharem com quarenta anos e quererem te fazer de crianças mimadas. Se acharem autosuficientes, onipotentes, se acharem uma grande merda e membro extra do Restart por ser a cara do Justin Bieber, ou ter os olhos da Hanna Montana.

Cheguei a conclusão que não espero mais nada de bom dessa próxima geração. Assim como eu previa, a sociedade tanto reprimiu os impulsos humanos que eles fizeram uma rebelião para se livrarem das amarras e o reflexo disto é uma menina de quinze anos grávida de um garoto de doze porque consumaram o ato num “pique-esconde” aparentemente inocente.

Fiquei deprimido, fiquei assustado. Senti a necessidade de pegar meus sobrinhos e os esconder da sociedade e de sua sombra. E parei no instante que percebi que foi justamente isso que meus pais sentiram e fizeram. Meus pais me defenderam de coisas como a festa do sorvete (aquela onde meninos de treze anos pra baixo foram flagrados pelados e lambuzados de sorvete lambendo-se uns aos outros).
Todavia, foi uma experiência interessante. Interessante sentir-se velho, pai de família e já integrante de uma geração passada. Afinal os anos 90 não foram os 80 nem os 70, mas deixam o século XXI babando por um pouco mais de serenidade e inocência.


Luan Silva