casamentogay

Postado no RLS em 25/10/2011


Engraçado foi o dia em que o casamento homossexual foi “liberado” na Argentina. Eu havia lido algumas noticias na rede e estava ciente do assunto. Feliz pela vitoria da causa num país próximo. Senti um pouco de esperança em relação ao Brasil. Esperança esta que foi saciada não completamente com a recente legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo. O cômico da história toda foi a pergunta da minha mãe horas depois de ver a noticia num jornal (fato que eu não tinha ciência).

“Luan, quando tu vai namorar e se casar, hein?”

Sempre fui evasivo e superficial quanto a minha vida amorosa para a minha família. Vivemos uma tragédia grega, um sitcom como o Adorável Psicose não faz tanto sentido. Quando perguntavam alguma coisa do tipo que minha mãe perguntou, eu normalmente fugia do assunto com algumas sílabas mal formadas e muita mensagem subliminar. Dessa vez não foi diferente, muito menos intencional.

“Quando tiver dinheiro pra ir à Argentina.”
“É… eu to sabendo.”

Minha mãe “não sabe” que sou gay. Merece um Oscar pela mais fabulosa atuação. Eu não fico pra trás. Só não sei se vou ganhar como ator coadjuvante ou como principal.

Todavia, creio que ela vai começar a preparar um enxoval de tons verde e branco (para não haver problema quanto ao sexo) dos meus animais de estimação. E talvez, quem sabe daqui mais alguns anos, preparem já a decoração do quarto da menina que eu e meu marido adotaremos. Isso porque finalmente o STJ brasileiro tirou as vendas monocromáticas da Justiça e autorizou o primeiro casamento civil entre homossexuais.

Com 4 votos a 1 os ministros da 4ª Turma fizeram valer do obvio e rejeitaram o veredicto do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A causa já estava ganha com 4 votos, até o momento. Mas um dos ministros voltou atrás com seu favorecimento e votou que tal decisão deveria estar nas mãos do Supremo Tribunal Federal.

Um Voto de Minerva fajuto, já que a maioria favorecia a aprovação, nas mãos de Marco Buzzi (o ultimo ministro a se prenunciar) declarou que o casal feminino poderiam ficar juntas civilmente como casadas. Foi muita luta, muitas ações e pedidos nas mais variadas estâncias da justiça e tribunais. Elas se emocionaram, é claro, com a vitoria e trouxeram muito mais alegria para àqueles que erguem a bandeira do arco-íris e luta por direitos de igualdade.

Como já citei, o STF havia chancelado a união estável, mas o que essas mulheres, que se vestiram como verdadeiras “Mulheres de Atenas” do Chico Buarque (desta vez pela causa, não pelos maridos), conseguiram foi muito além disto. O fato não tornou obrigatória uma postura igual dos demais juízes, mas serve de exemplo e dá bases ainda mais sólidas para o obvio dito por Buzzi.

“Não existe um único argumento jurídico contrário à união entre casais do mesmo sexo. Trata-se unicamente de restrições ideológicas e discriminatórias, o que não mais se admite no moderno Estado de direito.”

É, mãe, nem preciso mais dançar Tango pra casar. Na verdade verdadeira, eu nunca precisei. Meus direitos sempre estiveram lá na Constituição. E desta vez posso até dizer que não foi a Justiça que se fez de cega. Foi a sociedade e seus preconceitos que tornou inquestionável o fato se o que define quem pode se casar é um livro sagrado de determinada religião ou os direitos catalogados de nossa Constituição. Por fim, a verdade veio à tona. O véu do preconceito caiu e a Justiça pôde enxergar um pouco do agradecimento não de duas, ou três pessoas que se beneficiaram com este primeiro e pequeno passo. Mas milhares de brasileiros e brasileiras cidadãos que não querem nada mais do que ter seu direito sendo executado.

Agora, Mamis, basta que apareça o genro dos seus sonhos e faremos a festa! Longe das Igrejas do Silas Malafaia que tanto lutou e decretou nos seus cultos conta o abominável amor entre iguais. Quem sabe numa cachoeira bem linda, onde o Ritual de Casamento Wanen seria bem abençoado pela runa Laguz… Ou quem sabe…

Bem… Vou imaginar meu casamento agora. Não que eu seja um desses pra casar. Contudo saciar o desejo de uma mãe é uma honra que eu pondero em engajar.


Luan Silva