Postado no RLS em 24/10/2011


Sentimento impuro, pesado, que rasga o peito do homem escancarando as fraquezas mais sórdidas dele para o mundo que o despreza. Sentimento que percorre as veias etéreas da alma carregando o vírus da tristeza, coagulando sangue fétido, negro, podre nas artérias do coração lento, lentíssimo, parado, morto.

Solidão, imagino-a como uma linda mulher de rosto triste, aura nefasta, roupas negras rasgadas; meio mendiga, meio madame; cabelos lisos, lápis nos olhos, um pó de arroz garantindo a palidez da pele macia, quente que congela e desconforta.

Tal mulher dança ao redor de sua vítima cantando a canção carregada de melancolia e drama, sussurrando entrelinhas, entre segundos, palavras secas, amargas, vazias ao ouvinte exasperado que faz das orelhas a porta para a ferida lasciva.

E ela baila como um cisne negro num lago branco. Poluindo com sua escuridão as águas paradas, profundas, misteriosas do passado do homem, que não encontra saída nem no passado nem no presente. Ela é a sombra que fica encostada nos cantos, que nos obriga a correr para debaixo das cobertas buscando o sono para que ele afaste de nós os tentáculos sedutores da vampira de personalidades.

Ela baila tão sedutoramente que o calendário se perde na contagem do tempo e não temos dias curtos nem meses logos, mas sim o inverso desconexo que se aplica à sociedade de hoje.

Solidão…

Faz de mim minhas fraquezas, faz dos medos o presente, faz da coragem o sonho, da verdade a ilusão, do cansaço a saída, da oportunidade o lamento.

Solidão, me garanta um pouco de loucura para que eu não enlouqueça no êxtase dos teus braços. Chama-me de insano, me faz diferente, sem igual, único. Faz-me mudar para que eu busque a diferença em meio às igualdades, me surpreenda com a novidade e me desprenda da mesmice cotidiana. Seja imprevisível.

Desestruture-me de forma única e bruta, causando a nudez da minha essência, da brutalidade da drusa da minha alma cristalina e luminosa. Descasca-me, me tira o suco, me deixa só o bagaço. Machuca-me, me fere, me arranca o couro e faz a dor brilhar em cada milímetro do meu corpo.

Despedace meu corpo, retire a minha cabeça e a enterre para que o solo a silencie; arranca meus braços e os queima para que eles se purifiquem de tudo que tenham tocado; joga minhas pernas no mar para que sozinhas elas se afoguem; joga o meu coração ao vento, para que as palavras belas que ele tanto quer dizer voem pelo mundo passando pelos ouvidos solitários assim como eu sou..


Luan Silva