07_greensanta

 

Postado no RLS em 17/12/2011


Quando deixei de ser cristão e passei a ser um herege e pecador – de forma tão intensa que o Papa faria questão de me excomungar pessoalmente – fiz uma lista de coisas (pensamentos, sentimentos, filosofias e visões) que na minha visão da época poderiam atrapalhar meu caminho mágico. Uma delas foi o significado dos festivais cristãos.

Um a um fui destruindo toda “magia”… Ou melhor, toda a “graça” que tinham para mim.

Foi um erro. Tinha na época 12 para 13 anos de idade, sem perceber estava rebelde e queria destruir tudo a minha volta. Lia revistas wiccanas mais confusas do que a própria religião que elas tratavam. Enfim, fiquei alienado, confuso e bani com um ritual mental tudo o que era Natal, Páscoa e outros.

Anos depois me detive com uma surpresa! A maioria desses festivais foi novas roupagens de festivais que eu tentava resgatar e reviver. O Natal era o Yule; a Páscoa, o Ostara e tantas outras coisas (Tem mais. É sério! Só não me lembro agora.).

Bem, voltei a comemorá-los ao meu novo jeito neo-pagão. Batia o pé dizendo que a energia que eu sentia era outra, porém semelhante a que eu sentia antes. Que talvez fosse a verdadeira energia do momento e tals…

Puro engano.

Eu sentia, sim, a energia dos meus Deuses e superficialmente a do momento do Yule. Todavia, por achar que estaria sendo falso co minha nova fé eu travava – inconscientemente – algo bem maior e isso provocava em mim um vazio um tanto absurdo.

O que me fazia persistir neste vazio era ver que pessoas de outras religiões e crenças, inclusive a cristã, vinham também sentindo-o. Logo, dei de ombros e achei normal, não imaginei o que estava jogando fora.

O Natal já não tem sido o mesmo, outras comemorações do mesmo porte e significado (independente de religião) vem se enfraquecendo ano após ano.

Vejo pessoas deixando de estar com a família, comemorando o renascimento da Esperança, trocando presentes imbuídos de afeto e carinho, honrando os laços que fazem da família uma família; dos amigos uma segunda família; dos conhecidos, semelhantes e assim por diante, para estarem em locais onde podem supervalorizar sua individualidade e seus sentimentos tênues mais expressos do seu Iphone para o seu Facebook do que demonstrados fisicamente.

Estamos nos tornando mesquinhos, amedrontados, sem confiança ou esperança. Estamos tão descontentes com nossa espécie que queremos evoluir para robôs e todos seus sentimentos descartavelmente artificiais. Assim, vamos destruindo o que é de mais precioso para nós. As únicas coisas valiosas que aprendemos a honrar e agora vamos deturpando uma a uma.

Nessa reflexão, em que eu primeiro exigia que os cristãos tomassem vergonha na cara e devolvessem os meus festivais, percebi que como outras coisas da relação “cultura para cultura”, essas datas e toda a carga emocional que eles trazem, esses Espíritos e toda sua magia, graça, whatever… são atemporais. Eles não pertencem a ninguém em específico porque estão inseridos em cada um, se manifestando no todo.

Mas já não sabemos o que é União, o que é coletivo. Estamos preocupados com nossas diferenças, a que grupo nós pertencemos e qual o rótulo que daremos ao próximo. E com isso o vazio que eu senti e que hoje tento preencher com as migalhas dos sentimentos que eu mesmo joguei ao vento vai se tornando mais comum, mais poderoso, mais real. E com ele vem o medo de ser oco, vem a vergonha de si mesmo, vem o pensamento de que “se não sei o que é confiar no próximo a ponto de comemorar algo com ele sem medo, devo me isolar”. E a reação em cadeia ocorre, perdemos um pouco mais da humanidade que nos faz divinos e nos entregamos ao vazio.

Este Natal vai ser diferente pra mim. Eu tentarei fazer a ceia lá de casa. Chamarei amigos, porém como moro no pós-fim-do-mundo, acho mais provável ir visitá-los para honrar e agradecer por sermos uma família e para cultivar a sementinha de esperança de que após esta era caótica encontraremos a harmonia enfim.

Façam o mesmo. Renovem-se. Destruam este vazio que nós criamos e nos consome pouco a pouco.

Vamos reviver nossas tradições independente de qual divindade nascerá nela. O que importa é o porque delas terem nascido. Que este fato significa para nós e o quanto ele pode nos fazer crescer espiritualmente.


Luan Silva