Entre os anos de 2005 e 2006, conheci Wagner Périco num Curso de Runas que ele ministrou na Quintessência, no Bairro das Graças. Eu tinha por volta dos 14 ou 15 anos de idade, era estudante e praticante da Wicca. Foi a primeira vez que entrei em contato com as Runas e com a Mitologia Germânica, eu cultuava Deuses Celtas. E lembro, como se fosse hoje, que na noite posterior ao curso, eu tive uma noite de insônia porque na minha mente ecoava o nome de uma divindade que Wagner falou diversas vezes: Mardöll.
À época, o meu interesse pela Tradição Wanen era zero. Estava muito bem no meu Sacerdócio Wiccano. Mas como um imã que me atraia cada vez mais, a Wanen foi se abrindo e permitindo que eu me debruçasse sobre os seus véus. O tempo passou, e devido a sonhos (meus e de Juliana Couto, outra Wanen pernambucana), projeções e muitas “coincidências”, foi revelado que eu era, de fato, Wanen. Eu pertencia à Tradição, tinha em mim a Marca que evidencia nossa “Wanescência”. Por conta da pouca idade, fui convidado a estudar a Tradição como um Feiticeiro (uma das formas de pertencer à Tribo). E de 2008 até meados de 2010 fui treinado e tutelado na Hexenheim (Casa de Bruxaria) da Deusa Ran, pelo também Wanen, Daniel Manso e pela Feiticeira de Mardöll, atual líder dos Feiticeiros, Katarina Miculis. O que antes era desinteresse, passou a ser uma paixão absurda que foi se transformando em amor e desse amor surgiu uma fé monstruosa.
No dia 6 de novembro de 2010, após uma exaustiva prova do Enem, recebo a ligação de Daniel me orientando a percorrer quase a Região Metropolitana do Recife inteira em busca de materiais e ingredientes para que finalmente (depois de uma espera longa) eu pudesse iniciar, enfim, a minha Jornada Iniciática com o ritual que nós na Wanen chamamos de “Entrega de Nome”. É o ritual que nos dá acesso ao primeiro dos três Ciclos Iniciáticos Sacerdotais na Tradição. Composto por 13 etapas chamadas de 13 Luas, este ciclo é o que define se o Wanen identificado está mesmo ou não pronto para seguir carreira sacerdotal. Foi nesta mesma noite que eu também descobri que a divindade ao qual minha essência corresponde [para nós Wanen, uma de nossas nove divindades principais abençoa a nossa existência com uma parte de sua força divina] àquela mesma Deusa que o nome ficou ecoando desde a primeira vez que eu ouvi: Mardöll.
Iniciou-se então um processo de mudança radical de hábitos, trejeitos, afirmações e quebra de paradigmas internos e externos. Absolutamente, depois destes quase 7 anos de processo iniciático, lidando constantemente com a minha Sombra, não sou aquele mesmo garoto que com 19 anos se predispôs a abrir mão de seu livre-arbítrio pra ser remodelado e melhorado nas 13 Luas. A Wanen me trouxe valores que nunca achei que poderia ter. Trouxe amor, amizade, sabedoria e tesouros que vou levar para a vida toda. Foi sem dúvidas uma eterna Montanha russa de altos e baixos, de abismos e topos do mundo. Fui levado ao extremo êxtase à extrema agonia; da extrema dor, para o extremo prazer; do caos à ordem; do fogo ao gelo e vice-versa.
Houveram momentos que cogitei desistir de tudo e desistir da luta. Mas a mesma fagulha que se acendeu com o ecoar de um nome, se mantinha acesa quando tudo era nada e nem eu mesmo estava mais ali. Houveram momentos que eu não me reconheci, em surtos e identidade, de fé, nas mudanças que eu tive que enfrentar e nos testes que eu tive que provar meu valor. Houveram momentos em que odiei as divindades, em que eu supliquei por sua ajuda. Houveram momentos que odiei o mundo, e momentos que eu larguei quem eu era pra mantê-lo de pé.

Hoje, finalizei este primeiro percurso. Por ter escrito este texto previamente, não sei se eu “passei” ou “não passei” em todos os testes que o Ciclo das Treze Luas exige. Mas independentemente do resultado, eu não poderia estar mais grato à maior e melhor experiência que tive em minha vida. Agradeço, obviamente, à Wagner pela paciência e pelo conhecimento passado. A Daniel, Juliana e a Katarina, por terem sido as portas, os mundos e a família que me guiou neste processo. Agradeço aos Wanen com quem compartilhei momentos, magias, beijos e prazeres. Aos Feiticeiros que tutelei, aos Feiticeiros que conheci. Aprendi muito com todos vocês. Agradeço àquele que foi por um tempo que pareceu infinito o meu Consorte e que foi mais que importante para este dia, para minha vida, e sabemos que para minha existência. Agradeço às pessoas de fora da Wanen, que como enviados dos Deuses trouxeram conhecimentos e sabedorias essenciais para minha formação como bruxo e ser humano.
Agradeço aos Espíritos Rúnicos, por terem aberto seus mistérios e sussurrado suas sabedorias para mim. Aos Espíritos Felinos que protegem à Tradição e nos guiam e aos Seres com quem a Tradição comunga. Agradeço aos meus ancestrais por cada passo que deram e a trajetória que percorreram para que por vim eu estivesse aqui.
Por fim, Agradeço aos Nove, pois… Desbravei as Sombras e forjei lâminas com Ran; Corri livre seguindo meus instintos com Freyr; Desfrutei dos Prazeres e Androgenia nos caminhos de Nehallenia; Incendiei e renasci descobrindo o ouro que sou e possuo com Gulltweig; Atravessei portais e desvendei mundos com Rowana e as Fadas; Senti os fluxos dos veios de Gejfion e o estrondoso poder dos seus Dragões; Fiquei perdido no deserto e encontrei flores no Espelho de Prawana; Aprendi a Honrar meus ancestrais, a terra em que vivo e a morrer com Nerthus; E finalmente agora renasço do Fogo e do Gelo de Mardöll. Se irei adentrar nos seus mundos, eu não sei. Mas só o fato de terem me ensinado a antes de olhar pra fora, olhar para dentro e ver o mundo de possibilidades, de forças e magia que sou, já valeu cada milésimo de poeira na Ampulheta das Nornas.
Luan L. Silva
Iniciante da Casa de Mardöll de Fogo. De