Hail!
Vamos finalmente começar a compreender as runas pelo sentido mitológico e assim compreenderemos a sua importância para a religião Asatrú (fé nos Asen) e Vanatrú (fé nos Wanen), assim como para as várias tradições germânicas e nórdicas.
Um erro bastante comum para quem começa a estudar runas é compreender na visão Asen e odinista que Odin foi quem criou as runas. Há muitos autores e próprios membros de tradições e vertentes Asatrú que dizem isto, mais no sentido de atribuir o fato das runas existirem à falácia da mitologia nórdica do que dizer que foi ele quem criou. De todo modo ainda é uma proclamação errada.
Segundo o poema Havamál (presente nas Eddas Poéticas), Odin teria recebido as runas e sua sabedoria após um ritual iniciático que ele fizera na grande árvore Yggdrasil. O ritual feito por ele foi um sacrifício e auto-imolação, em que ele ficou suspenso de ponta cabeça num dos galhos da grande árvore da vida, com uma lança transpassada em seu corpo pelo período de nove dias e nove noites.
O sacrifício, feito dele para ele mesmo – como é dito no poema – é motivo de muitas especulações. Dizem que o Odin que fez o sacrifício não era o Odin divindade, talvez um líder da tribo que cultuava um Deus com seu mesmo nome. O que torna este ritual o caso de uma jornada xamânica em que o xamã se sacrifica ao seu Eu Superior para alcançar a sabedoria. Alguns autores sustentam esta teoria, afirmando que o indivíduo que se sacrificou teria sido apenas um mortal que entrou em contato com sua essência divina e mais tarde, depois de passar o conhecimento e sabedoria deste ato, assim como sua historia foi divulgada e transformada em lenda, ele foi dito como Deus.
Ainda falando sobre o ritual, ele é presente em muitas culturas antigas. Quando um individuo, por meio da morte ou sofrimento extremo do corpo físico e oferta tal ato a alguma divindade, penetra o mundo dos espíritos superiores e tem a possibilidade de arrecadar sabedorias. A volta desta jornada mais sábio, divinizado e com uma ponte eterna com o mundo dos espíritos é um renascimento e o que faz do individuo um ser entre os mundos, o que o torna, de fato, um xamã.
No caso de Odin, a sabedoria veio em forma dos símbolos rúnicos. Que no Havamál ele dita ter vislumbrado no fundo das raízes da árvore da vida e de lá as agarrou. Vale salientar que os símbolos rúnicos citados não tem uma origem definida. É como se já existissem até antes dos Deuses sendo apenas adicionados na cultura dos Aesir com este ato de Odin. Também estes símbolos são desprovidos de espíritos, como é visto em algumas Tradições. São apenas os mesmos símbolos, chaves e portais para sabedorias e mundos próprios, oposta da visão de espíritos individuais.
Do Havamál, também se compara os nove dias e nove noites de sacrifício como uma assimilação dos nove mundos que compõem a mitologia nórdica e a Árvore Yggdrasil. Supõe-se que cada dia seria dedicado a meditação dos mundos externos e internos de Odin, reforçando que as runas e o xamanismo nórdico estão muito ligados ao autoconhecimento e ao desdobramento entre mundos.
Segue uma tradução do Havamál e até o próximo texto! Onde sairemos da zona do conceito de runas, para começar a verificar as runas em seu sentido individual.
“Estive pendurado nove noites
na árvore açoitada pelos ventos,
por lança trespassado e dado a Odin
eu mesmo, a mim mesmo, naquela árvore
que nenhum homem sabe de onde brota.
Com pão não me abençoaram, nem com chifre,
olhava para baixo; e então tomei
as runas eu tomei vociferando,
de lá tombei de novo depois disso.
Encantamentos nove eu aprendi
daqueles filhos célebres de Boltor,
o pai de Bestla; e foi-me dado então
beber do hidromel caro de Odreri.
Depois revigorei-me e fiz-me sábio,
cresci e logrei ter maior poder;
dito buscava dito de meu dito,
obra buscava obra de minha obra.
Runas tu hás de encontrar e letras lidas,
letras mui grandes, letras mui robustas,
e pelo grande sábio desenhadas
e pelos grandes deuses engendradas,
e pelo Hropt divino entalhadas.
Entre os ases Odin, e entre os elfos
Dáinn, e Dvalinn diante dos anões,
e diante dos gigantes está Ásvid,
e eu próprio talhei algumas delas.
Sabes como entalhar, tu sabes ler?
Sabes como traçar, sabes testar?
Sabes como pedir, como imolar?
Sabes sacrificar, sabes matar?
Melhor é não pedir que imolar muito,
sempre o regalo atenta ao pagamento;
melhor sem sacrifício que matança.
Assim à gente diva Thund talhou;
lá, de onde retornou, ele se ergueu.”