maria rezando

II

Essa sou eu. Sou o que busco e busco o prazer no desconhecido. Vivo em buscas das mais derradeiras experiências do mundo. Vejo o prazer não como o pecado em si, mas como a minha forma de entrar em contato com minha idéia de Deus. Não consigo ver como alguém consegue tal ato tão sublime, rezando, orando… Alguns até creio ser verdade. Vai que a louca da freira tem mesmo prazer em rezar, mas para mim não é a sua reza que lhe conecta ao divino, e sim seu prazer. Muito menos consigo ver Deus como aquele velho barbudo com cara benevolente, ou aquele outro cabeludo que tem tanta bondade nos olhos que se tornaria idiota se seus ensinamentos não exigissem respeito.

Deus para mim é a íris dilatada do Estranho Conhecido, que geme ao sentir prazer e ao explodir num milésimo em uma morte completa. É o sorriso de Jennifer, minha protegida, ao me ver chegando com mais uma pelúcia para sua coleção. Deus, para mim, sou eu. Pois eu sou minhas decisões e sou a forma que o mundo age em mim, sou a forma que ajo no mundo. Sou e Ele (ou Ela, vai saber!) é a mínima sensação das gotas de chuva molhando nosso corpo. É gritar bem alto e jogar neste grito a mínima verdade do seu ser. É o silencio que diz mais que as infinitas palavras do mundo. É a única e tão variada forma de sentir-se vivo. E isto é o Estranho Conhecido. A sensação que sentimos a todo instante, mas só nos deparamos com ela em poucos segundos, com uma estranheza fatal. E isto é Deus.