“O Espelho Negro” é, primordialmente, o desfecho de uma era. E o portal, a Dagaz¹ para a posterior.
Por anos – Jul/2008 ~ Marc/2013 – me foquei no blog “Reflexo, Luz e Sombra”. Local onde expressei minha religiosidade, minha literatura e minhas mais intrínsecas verdades. Toda minha adolescência estava resguardada naquele “lugar”. Frustrações, aspirações, desejos, sonhos, dilemas… Era pra mim libertador desprender-me da real situação, romantizá-la e em linhas poéticas expor partes de mim.
E este é um detalhe importante! Como um espelho espatifado, em cacos era como eu me sentia à época. E na imersão, que o RLS me proporcionou, pude me reunir cada fragmento perdido e num quebra-cabeças fractal me reconstruir. Tal qual Sandra Ingerman cita em seus livros, fiz o tal “Resgate da Alma” Dividi-me em três personas – o Reflexivo, o Iluminado e o Sombrio – e com elas fiz de mim um ser único.
E hoje, não me reconheço tanto quanto um Reflexo (de desejos externos e suplantados, de aspirações sociais que me fiz moldar), ou uma Luz (divina, inspiradora, poética, bela e Mardöllesca²), sequer a Sombra (oculta, misteriosa, rebelde, instintivista e mística). Hoje, me reconheço uma mescla das três facetas. Hoje me vejo como o espelho por onde a Luz se reflete e por trás da película de prata uma sombra lhe imita sendo oposta. Mas não um espelho qualquer.
Precisamente: O espelho de Obsidiana, por onde os Aztecas por meio de uma Deusa, migravam para o Submundo; O espelho tão celebrado nas tradições mágicas como instrumento indispensável; O espelho que nos guia para o autoconhecimento; O espelho que nos faz deparar com nossa divindade e nosso oculto, e assim com nós mesmos.
Hoje sou o Espelho Negro, ainda definido por um poema de 2002.
Sou aquele que não é vivo.
Sou aquele que não sente medo.
Sou aquele que não é morto.
Sou aquele que não tem forma.
Sou aquele que é o que querem que seja.
Sou aquele que não tem reflexo.
Sou aquele que é o reflexo.
Sou aquele que não tem sombra.
Sou aquele que é uma sombra.
Sou aquele que é oposto do verdadeiro, mas nem por isso é falso.
Tenho várias faces e nenhuma é a minha.
Sou aquele espelho no seu quarto.
“O Espelho” – SILVA, Luan (2012)
Bem vindos então à esta nova era, a este novo patamar!
Bem vindos, ao Espelho Negro.
Luan Silva
1-Dagaz: Runa do Elder Futhark que simboliza o amanhecer, os portais, o autoconhecimento, a esperança. Relacionada mitologicamente pelos escritos com o Deus Dagr, o Senhor do Dia. Na Tradição Wanen é uma Runa muito relacionada às Fadas e à Mardöll a Líder da Tribo Wanen e Deusa maior da Tradição. 2-Mardöllesca: Trocadilho, neologismo oriundo da Tradição Wanen para classificar aquilo que é ou tem relação com Mardöll.